segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O GERMINAL, nº 17 - Avaliação da Oposição CCI ao processo Eleitoral para DCE da UnB


Eleições para DCE da UnB – 2010


VITÓRIA DOS GOVERNISTAS: AMANHÃ VAI SER DERROTA


Encerraram as eleições para DCE. Novamente a Chapa hegemonizada politicamente pelo PT conseguiu a maioria dos votos, emendando o segundo ano de mandato dos governistas no órgão de representação dos estudantes de nossa universidade. A vitória é, sem sombra de dúvidas, resultado do árduo trabalho da gestão anterior, agora reeleita: muitas festas organizadas na UnB, criação de consensos com setores burgueses e direitistas da universidade, irresponsabilidade com lutas fundamentais como o claro boicote a greve deste 1º semestre, o não enfrentamento com a Reitoria nem com o governo Lula e seus projetos Neoliberais. A rede estudantil de apoio da gestão anterior, marcada pelo respaldo de muitos CA’s farristas e burocráticos da UnB assim como das Empresas Juniores, constituiu certamente uma base para a reeleição da Chapa 1 – Amanhã Vai Ser Maior.



O processo eleitoral foi marcado pela baixa participação dos estudantes, que pode ser verificado em última instância pelo número de votantes, que decaiu significativamente das eleições passadas, atingindo menos de 3800 dos cerca de 30 mil estudantes matriculados. Apesar disto não deslegitimar o processo, pois se atingiu o quorum previsto, é sim um fator negativo para o Movimento Estudantil de uma forma geral que, ao contrário do delírio dos governistas da Chapa 1, parece não ter acumulado muito em lutas no último período. Isto é resultado, primeiro, do nível elevado de despolitização, desinteresse e desorganização do conjunto dos estudantes cuja última gestão “Pra Fazer Diferente” é peça ativa, acrescido aos problemas imediatos na má divulgação dos debates entre chapas, por exemplo.



Por outro lado, o alto número de integrantes que certas chapas possuíam, não representava participação ou mobilização de fato. Pior que isso, muitas pessoas inscritas nas chapas nem sequer possuíam concordância política ou até desconheciam o programa da mesma, isto quando certos nomes não foram incluídos sem a devida permissão dos indivíduos. Quer dizer, um claro oportunismo! As chapas que dispararam nesta corrida de inscrição de laranjas foram as chapa 1 – do PT, UJS, PV, já mencionada e a 3 – “Quem Sabe Faz a Hora”, do PSTU, PSOL e PCB, com 53 e 79 membros, respectivamente. E mesmo a Chapa 4, do PCO, ainda que tivesse um número baixo de membros, não escapou deste tipo de formação, utilizando do apelo da amizade, e não necessariamente da concordância política, para adesão de membros na chapa: a barganha do coleguismo! Dessa forma foi unânime entre as chapas 1, 3 e 4 o modo aparatista, oportunista e burocrático pelos quais se formaram para disputar o DCE.



Vale, por último, fazer uma menção à chapa 5 "Aliança pela Liberdade" e o fortalecimento da direita na universidade. Utilizando-se de um discurso supostamente apolítico e anti-partidário, a chapa 5 conseguiu iludir muitos estudantes ao defender um "pragmatismo responsável" em detrimento da política estudantil usual que, segundo eles, está historicamente ligada a assuntos externos à universidade, legando a segundo plano os assuntos que "realmente interferem no cotidiano dos estudantes". Isso se agravaria ainda mais, nos dizem ainda, em decorrência de partidos políticos que se utilizam do movimento estudantil e suas entidades para defender seus próprios fins, e não os dos estudantes.



Não obstante esse discurso, um dos ex-membros da Aliança pela Liberdade durante o último ano é hoje candidato a deputado federal pelo ultra-burguês e megacorrupto DEM (partido esse que representa o que há de mais nefasto no nosso país, cobrindo um vasto arco de reacionarismo desde ACM até nosso falecido governador Arruda, passando por Kátia Abreu e sua fascínora bancada ruralista), e vale da sua experiência como conselheiro estudantil no Consuni para "aprimorar seu currículo" de candidato - aprimoramento esse custeado pelos votos recebidos pela Aliança pela Liberdade em 2009. Somado a isso, a chapa 5 guarda relações amistosas com o DCE da UFRGS, controlado por membros do PP, um deles inclusive cadidato também a deputado estadual no RS. Como se vê, há uma flagrante contradição entre o discurso "anti-partidário" e a prática da chapa.



A chapa ainda se diz "apolítica", interessada somente nos interesses dos estudantes. Isso é um engodo que chega a ser ofensivo. A chapa, na realidade, é formada por liberais muito cientes de suas visões políticas e de mundo. São claramente contrários à existência da universidade pública, de qualquer forma de direitos sociais que vão de encontro às "inexoráveis leis do mercado", acham que questões socias e a luta de classes devem ser tratadas como caso de polícia. Não expressam isso claramente nas eleicões porque sabem que serão apeados dos conselhos pelos estudantes. Escondem suas visões burguesas dentro de falso um discurso de "pragmatismo, eficiência e neutralidade." Esquecem, no entanto, que não se pode ser netruo em um trem em movimento.



A Oposição CCI e a Chapa 2 – Unidade Estudantil Classista como alternativa aos estudantes combativos


Neste processo eleitoral nós da Oposição CCI tomamos a iniciativa de formar uma chapa que pudesse se apresentar aos estudantes como alternativa política ao reformismo e, organizacionalmente, ao aparatismo. O reformismo é a linha política que privilegia o legalismo e não a ação direta, apostando nos parlamentares para alcançar reivindicações e que por vezes se tornam fim em si mesmas. O aparatismo é caracterizado pela atividade dos partidos eleitoreiros que enxergam nos órgãos de representação dos estudantes (como DCE’s, CA’s, Grêmios) um fim quase em si mesmo, de modo que o trabalho e o estágio de organização de base dos estudantes importam menos do que os cargos de direção que se possa ter. Vale tudo na disputa pelo aparato. Esta é, inclusive, uma política que corrobora com a velha prática de utilizar posições de importância no Movimento Estudantil para ter visibilidade política para candidaturas às eleições burguesas (deputados, senadores, governadores e presidente); quer dizer, a universidade e o DCE se tornam uma “escola” e um trampolim para os gestores do Estado capitalista. Rechaçamos veementemente ambas as concepções e práticas no seio do Movimento Estudantil.


Construímos a Chapa 2 – Unidade Estudantil Classista juntamente com companheiros do MEPR e estudantes independentes. Esta aliança tática foi fundamental para evidenciarmos um programa Classista, onde a luta dos estudantes seja ligada a dos trabalhadores, tanto da UnB como do resto da cidade e do campo, única forma de obtermos conquistas mais globais; Combativo, que privilegie a ação direta como método desta luta, ou seja, que organizemos a força coletiva dos estudantes para exigir dos governos e reitoria nossas demandas para um ensino de qualidade e que sirva ao povo, e; Democrático, onde as orientações para a luta venham desde as instâncias de base, como assembléias de curso e geral, até as instâncias centrais, ou seja, onde a maioria dos estudantes possa participar e decidir.



O caráter tático desta aliança firmada esteve submetido às nossas concepções programáticas centrais: destruir a UNE e o governismo no movimento estudantil, assim como denunciar suas Reformas Neoliberais, apresentando os princípios que devem guiar nossa reorganização de massas. No entanto, julgamos como negativo a não apresentação clara da Rede Estudantil Classista e Combativa – RECC* como este instrumento de aglutinação e reorganização estudantil, nem a tarefa de construção de uma Central de Classe*, arma estratégica do proletariado contra as ofensivas da burguesia, tendo em vista as concepções equivocadas que os companheiros do MEPR possuem sobre o Movimento Estudantil e o papel deste na Luta de Classes no Brasil.



No entanto, a chapa 2 cumpriu outras tarefas intransponíveis, sendo a única alternativa política que: 1) não foi formada por partidos eleitorais e que rechaçava as eleições burguesas por identificá-la como um circo para iludir o povo e manter a ordem social tal como está, e; 2) como único grupo que apontava que, para lutarmos contra a precarizante e privatista Reforma Universitária que o Banco Mundial “orienta” ao Governo Neoliberal de Lula, o único meio é pela ruptura completa com a degenerada UNE e pela construção da organização classista, combativa e independente dos estudantes.



Nestes quesitos, todas as outras Chapas vacilavam. A Chapa 1, dos governistas do PT e UJS, além de defenderem a traidora UNE, não são capazes de admitir os efeitos nefastos que o REUNI (parte da Reforma Universitária) trás às IFES do Brasil, mas apontando que é possível disputa-lo.O que não souberam explicar em nenhum debate foi o modo como pretendem disputar um decreto presidencial e suas metas basilares, que são imutáveis e que justamente caracterizam o decreto: é óbvio para todos que não possuem tal disposição de alterar o grosso do decreto REUNI do Lula! A Chapa 3, dos para-governistas do PSTU e PSOL, no debate realizado no campi de Ceilândia, afirmaram, também débil e categoricamente, que “é sim possível disputar a Reforma Universitária” (sic). Além, é claro, de não obterem acordo sobre a negação da UNE, onde correntes do PSOL possuem atuação e cargos, mas que o PSTU abriu mão de seu programa para consolidar a Chapa: certamente romper com a UNE governista é um ponto não estratégico para os oportunistas do PSTU, já que é negociável. A Chapa do PCO, 4, quando indagada sobre sua ligação com a UNE no debate no Gama, acertou quando disse que tal entidade é “indisputável” mas depois, contraditoriamente, disse que atuavam na entidade justamente para “disputa-la”: nada mais incoerente!



As eleições passam, mas a luta nunca parou!



A Oposição CCI não se constitui como um grupo de oposição meramente eleitoral. Somos uma Oposição de Base e pretendemos impulsionar a reorganização do Movimento Estudantil de baixo para cima, e não ao contrário, com uma política e estrutura classista e independente. Apesar da Chapa que compomos, Unidade Estudantil Classista, ter obtido poucos votos em relação ao total – 121, 3,2% do todo –, estes devem ser votos qualitativos e de camaradas que certamente esperamos encontrar nas linhas de frente da luta por uma universidade que sirva às causas do povo!

Da mesma forma, passada as eleições, a Oposição CCI se compromete com todos aqueles estudantes que reconheceram a importância e justeza deste programa que apresentamos e que votaram na Chapa 2, assim como todos os demais estudantes-trabalhadores da universidade e aqueles que sinceramente defendem a causa dos explorados: é exclusivamente com os estudantes do povo e com a classe trabalhadora que nos comprometemos. Convocamos todos estes para cerrarem fileiras conosco na luta por uma universidade popular. Nem um passo atrás: Unam-se a Oposição Combativa, Classista e Independente!



FORA FUNDAÇÕES E BURGUESIA PARASITAS DA UNB!

NEM ENEM, NEM VESTIBULAR: ACESSO LIVRE JÁ!

LUTAR PARA ESTUDAR: ESTUDAR PARA LUTAR!


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*A defesa da RECC e da Central de Classe podem ser mais bem compreendidas nas teses que sustentamos: "Por um Movimento Estudantil Classista e Combativo" e "Por uma Central de Classe", ambas disponíveis no sítio da Oposição CCI: http://oposicaocci.blogspot.com/search/label/Teses


Um comentário:

Felipe Melo disse...

Engraçado como vocês não mencionaram que o ex-membro da Aliança pela Liberdade que candidatou-se a deputado estadual pelo DEM de Goiás foi EXPULSO do grupo da UnB justamente por ter e esconder intenções político-partidárias.

E é engraçado também que vocês não mencionaram a subversão do regimento estudantil na UFRGS pelos grupos de esquerda para derrubar a atual gestão do DCE daquela universidade - que, aliás, sofreu um atentado a bomba no início do ano.

Seus dias como senhores ruidosos do movimento estudantil estão contados. E isso não é uma ameaça: é apenas a caminhada evolutiva do ambiente universitário.