quinta-feira, 27 de maio de 2010

COLETIVO DE GEOGRAFIA “TERRITÓRIO LIVRE”

"Saber pensar o espaço, para saber nele se organizar, para saber nele combater... Afinal, nem toda região montanhosa e arborizada é Sierra Maestra." Yves Lacoste, geógrafo francês.

O quadro atual do ensino superior brasileiro é alarmante. A Reforma Universitária do Governo Lula/PT demonstra que mesmo sendo aplicada de forma fragmentada faz parte de um todo articulado, aprofundando o processo de apropriação capitalista das Instituições de Ensino Superior. Tal afirmação tem sua comprovação no caráter de programas como o Prouni, que transfere as recursos públicos para o empresariado das faculdades privadas; o recente repasse de $ 1 bi do BNDES para as “privadas”; a Lei de Inovação Tecnológica que transforma a universidade em espaço de produção de ciência para empresas; a proliferação das fundações privadas e cursos pagos; o REUNI que visa a precarização da educação e do trabalho nas Universidades Públicas com o aumento de vagas sem infra-estrutura e professores/ funcionários suficientes. A Luta em Defesa dos Trabalhos de Campo na geografia se torna fundamental, portanto, dentro de uma luta maior contra precarização da educação e CONTRA O REUNI.

Nosso coletivo e o CAGEA:

O Coletivo “TERRITÓRIO LIVRE” tem como objetivo primeiro estar iniciando um processo de mudança do nosso curso e principalmente do Movimento Estudantil de Geografia (MEGEO). É preciso mudar a concepção de Centro Acadêmico (CA) que atualmente possuem alguns estudantes, principalmente alguns “veteranos”, que acreditam ser o CA um lugar onde as pessoas individualmente (ou com um grupo de amigos) possam se apropriar do CA para realizar atividades particulares acima dos interesses que envolvem o curso e os estudantes de geografia de forma geral. Nós do Coletivo “TERRITÓRIO LIVRE” queremos um CA pra lutar!

Ao contrário de uma visão apolítica que acredita na neutralidade, nós acreditamos que uma entidade como o CA está sempre caminhando em uma direção, porém, essa direção deve ser democraticamente eleita, através do voto com disputa de chapas, onde obviamente, as assembléias gerais de curso tem caráter fundamental para o andamento da luta como órgão de deliberação máximo; para aumentar a participação devem ser criados Grupos de Trabalho (GT’s) abertos a qualquer estudantes interessado em tocar as atividades do CAGEA. É necessário que o CAGEA saia do apoliticismo e da “porra-louquisse”, e isso só se dará combatendo a influência ideológica da burguesia dentro universidade, que paralisa as lutas e a organização coletiva dos estudantes.

Nós do Coletivo “Território Livre” defendemos um CAGEA que:

- Seja aliado da luta da classe trabalhadores do campo e da cidade, defendendo o CLASSISMO no caráter de nossas lutas ou na produção da ciência produzida no curso de Geografia;

- Aposte nos métodos de Ação Direta, tais como ocupações de órgãos públicos, fechamentos de ruas, paralisações unificadas com os trabalhadores (tal como na USP) que caminhem para uma greve geral da educação. Acreditamos que ao invés dos acordos de cúpula e parlamentaristas (privilegiados pelos partidos reformistas) , a ação direta combativa é o único método que garantirá nossas pautas reivindicativas imediatas e históricas.

- Seja independente perante o Estado burguês e seus diversos governos, independente da burguesia e dos partidos políticos. Atualmente, com o advento do “petismo” vimos às maiores organizações estudantis e sindicais (UNE, CUT) virarem “correias de transmissão” das políticas neoliberais do Governo Lula, portanto é necessário aprender com a experiência, negando o parlamentarismo eleitoreiro e lutando pela independência das entidades de base.

Convocamos todos os calouros e demais estudantes de geografia a estarem cerrando fileiras conosco nessa batalha pela revitalização de um CAGEA classista e combativo, com democracia e luta. Fazemos esse chamado principalmente aos calouro por acreditar que atualmente no nosso curso existe uma luta do velho contra o novo, onde os calouros querendo participar e lutar são impelidos pelos veteranos reacionários a mesma dinâmica pequeno-burguesa de apatia e apoliticismo. Unam-se ao TERRITÓRIO LIVRE!

O Movimento Estudantil Nacional de Geografia

Atualmente no ME brasileiro existe o que se chama de “movimentos de área”, que agrupam os estudantes de determinado curso, no nosso caso o de Geografia. Mas o que se vê é que, longe de serem espaços para organizar as lutas dos estudantes, tais espaços dos Movimentos de Área como os Encontros Nacionais são verdadeiras colônias de férias pequeno-burguesas, onde desde a base se cria um clima festivo, de esvaziamento dos debates e das disputas políticas, onde os participantes não estão representando as bases organizadas e sim participam aqueles com tempo, dinheiro e vontade de “curtir a viagem”. O ENEG e o ME de Geografia se inserem em tais críticas, e a burocratização e a desorganização vão se aprofundando.

O Coletivo “TERRITÓRIO LIVRE” defende a necessidade também da (re)organização nacional do MEGEO. É necessário que o CAGEA saia do isolamento e se articule com um movimento combativo nacional de estudantes de geografia. Para iniciar tal processo de reorganização, nós defendemos como pontos fundamentais: a) A realização de um congresso de base nacional, com delegados eleitos em assembléia, para reestruturarmos nossa organização; b) A articulação de um movimento de oposição de GEA que tenha um programa classista e combativo e capacidade de organizar e combater a burocracia no movimento.

Geografia e Luta de Classes

Acreditamos que a luta por um Universidade Popular e a serviço da classe trabalhadora, do campo e da cidade, perpassa também pela luta acadêmica por uma ciência também a serviço do trabalhadores, e enquanto Geógrafos, por uma Ciência Geográfica Crítica e Revolucionária, que esteja lado a lado nos enfrentamentos do proletariado, produzindo uma Geografia verdadeiramente comprometida com a CAUSA DO POVO.

Atualmente, existe na universidade uma ideologia burguesa muito forte, que negando a verdade da luta de classes e o método materialista para análise da realidade confunde muitos estudantes com um ultra-relativismo teórico-político, fazendo com que se defenda o “fim das classes sociais“ e supostamente se colocando acima delas, em uma ilha de neutralidade e pluralidade, enquanto nosso povo morre de fome e na luta diária por uma vida melhor e mais digna. Mudar a realidade significa luta e combate, tal neutralidade e pluralismo não é nada mais que um posicionamento reacionário para manter as coisas tal como estão.

Os trabalhos de campo bem orientados teoricamente tem uma importância chave no ensino de Geografia, pois aproxima os estudantes da realidade de seu povo e do cenário da luta de classes, saindo do ambiente academicista e da ideologia burguesa colocados na universidade. São fundamentais para a garantia da qualidade do ensino e do tripé ensino-pesquisa- extensão, que há alguns anos as políticas neoliberais vêm destruindo através da Reforma Universitária, onde são criados curso de geografia sem a mínima estrutura, são cortados os ônibus e materiais dos que tinham anteriormente, etc.


Por uma Ciência Geográfica crítica e a serviço da causa do povo!

VIVA A AÇÃO DIRETA DOS ESTUDANTES E TRABALHADORES!

Junte-se ao Coletivo de Estudantes de Geografia TERRITÓRIO LIVRE!



“(...) a geografia, através da análise dialética do arranjo espacial, serve para desvendar máscaras sociais, vale dizer, para desvendar as relações de classes que produzem esse arranjo. É nossa opinião que por detrás de todo arranjo espacial estão relações sociais, que nas condições históricas do presente são relações de classes.” Ruy Moreira

quinta-feira, 6 de maio de 2010

O Germinal – Nº 15, Abril de 2010

Avançar a Greve Geral contra o Governo!


A Greve Unificada da UnB, iniciada no dia 9 de março pelos professores, já passa de um mês de duração. A assembléia realizada pelo movimento estudantil (no dia 16/03) que aprovou a participação na greve e que contou com cerca de 400 estudantes, confirmou a defesa dos posicionamentos que a Oposição CCI vinha fazendo desde o final de 2009: deflagração de greve estudantil e defesa da unificação, com pautas estudantis e com piquetes/ ação direta (ver boletim germinal nº 13 de novembro de 2009). A greve, pelo caráter agressivo do corte salarial (26%), conta com boa adesão de professores e servidores do quadro.

Apesar disso, o movimento grevista apresenta no seu interior uma série de problemáticas que se colocam como obstáculos ao avanço da luta atual. Os organismos de direção do movimento tal como a ADUNB (Thimotistas) , o DCE (PT-UNE) e o Sintfub (PT-CUT), hegemonizados claramente por forças políticas legalistas e governistas vem levando o movimento a confusão, defendendo aná lise errônea de que há uma contradição no Estado, entre o Ministério do Planejamento e o Governo Lula/Dilma, e que a tática para obter a URP em ano eleitoral é apostar na exigência de que Lula/Dilma defendam os trabalhadores da UnB.
Como já havíamos denunciado no boletim nº 13 a retirada da URP (gratificação salarial de professores e servidores instituída em 89) que já foi nacional e atualmente tem na UnB um de seus últimos bastiões, faz parte de um ataque global implementado na educação brasileira. Como veremos esses ataques tem ampla dimensão:


O Papel Burguês do PT (Lula e Dilma):



A intransigência e atraso do Governo Federal/Ministé rio do Planejamento em não pagar a URP demonstram o caráter estratégico de sua política de precarização do trabalho e da universidade pública. Esta e outras medidas fazem parte da Reforma Trabalhista Neoliberal que vem sendo implementada pelo Governo do PT conjuntamente á burguesia brasileira. Tem o objetivo de adequar o Brasil ao modelo imperialista de flexibilização trabalhista e competitividade internacional.

O Projeto de Lei 549/2009, é exemplo disso, já aprovado no senado federal visa congelar os salários dos servidores por 10 anos e reduzir drasticamente os custos públicos. Além disso, tramita na Câmara e no Senado Federal o PLP 248 e a PEC 341/09, medidas que instituem a demissão sem direito à ampla defesa no serviço público e a “regulamentação” do direito de greve.

Deste modo as recentes declarações do presidente Lula pelo pagamento da URP, não devem ser encaradas como uma faceta bondosa a ser aplaudida e sim como resultado de nossa luta. Não devemos aplaudir o patrão por conceder o que é nosso por direito. Aliás, pelo que vem se desdobrando nos trâmites da AGU (Advocacia Geral da União), os trabalhadores parecem estar sendo enrolados outra vez. Deste modo, a análise de que para vencermos a batalha da URP temos que apostar numa suposta “contradição” no governo, é uma formulação produzida pelos setores petistas do (Sintfub e DCE) que além de se apoiar em uma tática eleitoreira/ oportunista ela obscurece a natureza burguesa do Governo de Lula e seus ataques aos trabalhadores do campo e da cidade.


As Conseqüências do Reformismo na Greve da UnB:


No movimento estudantil, o DCE leva uma prática de sabotagem da greve não encaminhando seriamente as tarefas principais da greve (como iniciação de piquetes, panfletagens, divulgação de assembléias etc.) E no movimento sindical, vemos o corporativismo se revelar na secundarização realizada pela diretoria do Sintifub e Adunb à luta dos terceirizados e contratados, ocasionando no fato de que a maior parte dos trabalhadores de serviços da UnB, que são terceirizados, continua trabalhando, já que não foram incorporados à greve.

Apesar de uma pressão da base pela radicalização do movimento, causada pela ineficácia da espera legal ao STF, as diretorias continuam apostando em atos comportados: em carreatas organizadas pela polícia, juntamente com parlamentares do PT, métodos judiciais e principalmente apostando na mídia burguesa para “pressionar” os órgãos públicos. Este último método se apresenta extremamente problemático, pois além de não representar uma pressão real, coloca o movimento refém do jogo burguês legalista, defendido pela mídia, que paralisa o avanço da luta combativa dos trabalhadores, levando-nos a derrota.

A linha estratégica governista das direções foi explicitada no ato na CONAE (Conferência Nacional de Educação), no dia 29/03, que contou com uma saudável ação combativa de ocupação da sala de eventos do Ulisses Guimarães. Mas na qual os pronunciamentos traidores dos diretores sindicais se colocaram a apoiar esta mesma conferência “tripartite” (governo, empresários e trabalhadores) , que vem legitimando vários ataques a educação, como a implementação do Novo ENEMbular.

Fica claro durante esse período de greve que a estratégia eleitoral da direção do DCE/PT e sua política de freio e boicote para as lutas materiais (tal como a greve unificada na UnB) faz parte de sua linha reformista que reforça o paralelismo na luta. Esta política paralelista se da com o reforço de “lutas” de cunho democrático-burguê s/nacional- desenvolvimentis ta (“Fora Arruda/Ética na política”, “Petróleo é nosso”, etc.) ao mesmo tempo em que desestabiliza e enfraquece as lutas e econômicas/materiais . Isso faz com que os trabalhadores não acumulem força na base e os deixa refém das lutas legalistas para apoio de legendas eleitorais, como o PT. Para além da verborragia vazia do DCE defendendo a “massificação” e “radicalização” da greve (sic), fica claro aos estudantes sinceros que seus reais compromissos com o Governo e com a política burguesa impossibilitam que tal direção encaminhe a luta para a vitória. Muito maior do que a fala comprometida e apodrecida dos diretores do DCE, a realidade nos mostra que a greve estudantil está sendo boicotada. O paralelismo reformista sujeita as lutas materiais/econô micas ao corporativismo, ao pacifismo e a derrota.

Construir uma greve geral na educação:


Deste modo, ao contrário das diretorias que pretendem fragmentar e parcializar as lutas, visando não fazer um enfretamento estratégico com o Governo Lula e os pacotes educacionais capitalistas, a Oposição CCI aponta que para os estudantes e trabalhadores da educação superarem a atual condição meramente reativa da luta, e passarmos a uma contra-ofensiva ao governo e ao empresariado, é necessário que unifiquemos a luta da URP à luta contra o PL 549/2009, contra a terceirização e as fundações privadas nas universidades. Visando a construção de uma greve geral na educação e no serviço público, acumulando forças através de um combativo movimento nacional de oposição sindical, popular e estudantil.

Para a continuidade e ampliação da luta na UnB é necessário termos claro que a polarização é entre os Trabalhadores x Estado (Lula e MPOG) e Empresariado, por isso devemos acumular nossas forças mantendo a greve e não acreditando em promessas dos poderosos. Queremos medidas concretas!
Não aos ataques da Burguesia e de Lula ao ensino! Construir a Greve Geral na Educação!


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Por que não queremos a polícia na UnB

Foi no dia 10 de outubro de 1973 que o estudante de Geologia da UnB e líder estudantil, Honestino Guimarães, foi morto e “desapareceu” nas mãos dos militares brasileiros. Fatos como esses e muitos outros, como o assassinato do estudante secundarista Edson Luís em 28 de março de 68, marcam com sangue a história do movimento estudantil no Brasil. Uma história de longo combate aos ataques a educação e de luta de vida ou morte contra a polícia do Estado Brasileiro a serviço das elites nacionais e internacionais.

Esses foram militantes heróicos a qual devemos relembrar a todo o momento sua bravura na luta do povo. Uma de suas grandes bandeiras foi exatamente a luta pela expulsão da repressão burguesa nos campus das universidades brasileiras, que conseguiu relativa vitória com o veto a entrada da PM nos campus a partir dos anos 80. Estes estudantes e trabalhadores estavam cientes do papel que a polícia cumpre na sociedade capitalista e na luta de classes: a repressão, o assassinato aos trabalhadores e estudantes (nas favelas, no campo, nas greves e nas escolas), e a defesa de um Estado corrupto dos grandes proprietários.

Apesar disso, atualmente vemos grupelhos da direita (o que já era esperado) e da dita “esquerda” exigirem a polícia militar no campus da UnB. A diretoria do DCE/PT é um dos maiores pilares desta política, que no segundo semestre de 2009 apoiaram a proposta de participação do DCE no comitê de segurança pública do GDF e a presença da PM no campus. Desta forma, sujam a história do movimento estudantil, que lutou por independência na organização dos estudantes e trabalhadores. Mais timidamente, vemos os para-governistas/ reformistas do PSTU defendendo os sindicatos de policiais.

Os movimentos de ocupação de reitoria ocorridos no Brasil inteiro durante os anos de 2007 e 2008, tem muito a nos ensinar sobre a repressão policial. A perseguição política, o jubilamento, o espancamento e a prisão de estudantes feitos pela PM ou Polícia Federal foram a resposta dada a luta combativa e justa dos estudantes. A recente luta na USP em junho de 2009, contra as demissões e contra a parceria privada de curso a distância na universidade, confrontou brutalmente o choque dentro dos limites do campus.

Nós defendemos que a questão de segurança deve ser garantida pelos próprios estudantes e trabalhadores da universidade e através de um conjunto de reivindicações: a) Melhor iluminação do campus e dos caminhos que ligam a L2, b) maior contratação de funcionários na UnB, c) que os CA’s, espaço de luta dos estudantes, expulsem os traficantes e condenem o uso de drogas ilícitas nas dependências físicas do mesmo e d) que o movimento estudantil e sindical criem espaços próprios de discussão, julgamento e execução de medidas de segurança.
A política do DCE é a política burguesa, pois defendem implicitamente que os problemas estruturais da educação estão resolvidos, bastam ser disputados aqui e ali os programas postos, dado que o seu partido (PT) ocupa o cargo central do Estado. Mas os problemas da educação estão longe de ser solucionados, e reservam aos estudantes proletários uma dura e violenta batalha pela derrubada do domínio burguês sobre a universidade. Ser contra a polícia no campus universitário é não conciliar com o inimigo de classe, é lutar contra a repressão ao Movimento Estudantil e Sindical, é tomar partido na luta de classes em defesa do povo pobre e trabalhador.

Fora Polícia Militar da UnB! Fora DCE Burguês! Pro uma universidade sob controle dos trabalhadores!