segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O GERMINAL - nº 24, Novembro/Dezembro de 2011 - Avaliação das eleições para DCE da UnB



ERRATA: 500 exemplares do boletim O GERMINAL Nº24 em versão impressa que já foram ou serão distribuidos não possuiam as duas notas de rodapé, notas estas contidas no original e que podem ser lidas no texto e versão para download abaixo.


DIANTE DA DIREITA NO DCE:
FORTALECER A OPOSIÇÃO DE ESQUERDA, COMBATIVA, CLASSISTA E INDEPENDENTE


1 – O CRESCIMENTO DO SETOR COMBATIVO DO MOVIMENTO ESTUDANTIL DA UNB

A formação da “Chapa 7 – Democracia e Ação Direta” é produto do crescimento orgânico da Oposição CCI nos últimos 2 anos e dos coletivos de curso (LutaSociais, Território Livre e Pedagogia em Luta), elemento que possibilitou a formação de uma chapa com a defesa da RECC e seu programa. As comissões de propaganda assentadas no trabalho de base nos cursos foram uma tática correta comprovada pelo grande número de votos que conseguimos nestes. Assim, alcançamos o 2° lugar nas urnas da ala norte (geografia, filosofia e história), do ceubinho (ciências sociais e serviço social), e letras. Agradecemos todos aqueles(as) que nos apoiaram, tanto na UnB quanto fora, em especial o Sindicato dos Trabalhadores da CAESB (SINDÁGUA), e convocamos todos estes camaradas a continuarem na luta conosco.

Sem fugir aos debates estratégicos para o Movimento Estudantil (M.E.) e para a educação, pode-se dizer que a Chapa 7 foi a única chapa que combateu abertamente o governismo/UNE e as posições da direita (se posicionando contra a presença da polícia militar no campus e a privatização da universidade via fundações privadas e cursos pagos), assim como defendeu a centralidade da luta contra a reforma universitária do Governo Lula/PT (que tem sua continuidade com o novo PNE 2011-2020) através da ação direta de estudantes e trabalhadores.


2 – PORQUE A RAZÃO DA VITÓRIA DA DIREITA NÃO FOI MECANICAMENTE A "ESQUERDA DIVIDIDA"?

Com a vitória da chapa direitista nas eleições do DCE uma série de debates foram levantados sobre a fragmentação dos setores da “esquerda”, este debate foi especialmente puxado pelo PSTU/Anel (Chapa 2) em um panfleto intitulado “Esquerda se fragmenta e entrega o DCE nas mãos da direita conservadora”.  Os principais argumentos defendidos foram: 1º) A ocupação da reitoria de 2008 foi vitoriosa e que a partir dela “uma nova etapa se abriu” na UnB; 2º) A não unificação da “esquerda” ocorreu pelo sectarismo das chapas 5 e 7 e esta foi a principal causa da vitória da direita; 3º) Uma chapa unificada da esquerda “teria conseguido, juntas, mais votos que separadas”. Achamos necessário responder a estas questões por estarem sendo amplamente reproduzidas neste período pós-eleitoral.

Quanto ao último argumento exposto pelo PSTU, realmente temos de concordar que uma tal chapa  unificada provavelmente teria sim maior quantidade de votos. Porém, o que devemos entender é precisamente a visão oportunista deste partido quanto à “reorganização” do M.E.. Para o PSTU, o avanço ou retrocesso do M.E. é analisado sob uma ótica matemática de conquista de entidades (no caso o DCE) e nunca o da sustentação de uma luta a médio/longo prazo de combate às práticas e formas organizativas burocratizadas e reformistas.

Entendemos que “ganhar” a direção de uma entidade como o DCE não garante a modificação imediata e mecânica rumo ao avanço político e organizativo de base. No atual momento em que convivemos em um meio pouco ou fracamente dotado de uma política classista e, quando muito, capaz apenas de apresentar lutas reativas, portanto também desorganizado, neste momento nossa principal e imediata tarefa é outra: é persistir na formação política coletiva de cada curso, impulsionar experiências de luta e gerar estrutura organizativa democrática em cada CA, ou seja, na base, operando portanto de baixo para cima na reorganização do M.E. É o trabalho duradouro de organização e politização de base, via Oposição, nossa tarefa primeira. Tal trabalho de reorganização é impensável para os partidos eleitoreiros (PT, PCdoB, PSOL e PSTU), “prisioneiros” de uma visão pragmática e imediatista, a de “ganhar” as direções a qualquer custo.

Porém, longe de tal “corrida pelo aparato” ser uma especificidade somente do PSTU/Anel, ela foi uma prática de quase todas as chapas. Podemos dizer que os “rachas” na última gestão governista do DCE (que formaram as chapas 1, 4 e 6), as quais se distinguiam apenas em propostas secundárias e nos “mascotes” da campanha, tiveram apenas motivações burocráticas que escondiam suas semelhanças programáticas: a defesa dos programas de precarização da educação brasileira (REUNI, ProUNI, PNE, etc.) e a mesma concepção de DCE. Tivemos também na chapa 3 uma aliança entre o que há de mais reacionário no movimento estudantil: a UJS  (que é direção há duas décadas da UNE), juventude do DEM e um grupo claramente fascista. Para esses oportunistas, vale tudo pela direção da entidade!

Quanto ao segundo questionamento feito pelo PSTU, sobre o sectarismo dos “grupos de esquerda”, afirmamos que esta acusação tenta reunir harmonicamente grupos com métodos, estratégias e programas de luta bem diferentes, ao menos em relação à Oposição CCI. A formação de uma chapa sem coesão interna suficiente poderia criar mais problemas do que resolvê-los, poderia em momentos críticos da luta estudantil ficar paralisada. Não aceitamos, portanto, a provocação de que a Oposição CCI contribuiu para a vitória da direita. Como demonstrarmos, é precisamente a política vacilante da esquerda eleitoreira que criou as condições para a vitória da direita, e é somente com um grupo coeso que se oponha não apenas a esta ou aquela gestão, mas que se oponha a política hegemônica, que conseguiremos verdadeiramente transformar o DCE da UnB em uma entidade combativa e de massas.

Por fim, o PSTU retoma o debate da ocupação da reitoria de 2008 (a do caso “Finatec”) para tentar explicar o atual momento de refluxo. Porém, é sobretudo na sua defesa acrítica da “ocupação vitoriosa garantida pela esquerda unificada” que reside uma de suas principais fragilidades e sua incompreensão das verdadeiras tarefas a serem cumpridas no atual momento.

A vitória da direita liberal significa o fim de um ciclo que se inicia com a ocupação da reitoria em 2008. Após esta ocupação, a Oposição CCI foi um dos únicos grupos a identificar que os partidos governistas e sua política saíram fortalecidos daquele processo¹. O PSOL e o PSTU, então na direção do DCE, buscando aliança com a UNE e PT ficaram incapacitados de aplicar a política correta: transformar a reivindicação imediata “contra a corrupção” em greve geral contra as Fundações Privadas, contra o REUNI etc. Como não o fizeram, garantiram o fortalecimento do governismo e o esvaziamento político daquela ocupação. Tal esvaziamento político e dependência da UNE representou a abdicação da luta contra o REUNI e contra as Fundações e, por fim, contribuiu para encorpar a “condenação das pautas externas”. Tal foi o efeito prático desta “esquerda unificada”².

A crítica de que os grupos estudantis se preocupam com “pautas externas” à universidade (concepção fortalecida pós-ocupação de 2008) e a crítica às assembleias como sendo antidemocráticas, “antiquadas” e etc., foram a concepção geral que garantiram a vitória do PT para o DCE em 2009 e em 2010, e a prática corporativista foi amplamente aplicada nestas últimas gestões. Na presente eleição do DCE (2011) vimos o aprofundamento e “radicalização” deste corporativismo e apoliticismo através da campanha da direita. O que estes pretensos “acadêmicos” não compreendem é que não podemos separar os problemas da educação das causas mais amplas e sociais que as produzem, e que somente através das mobilizações gerais e sociais que poderemos de forma plena combater a precarização cotidiana que a somos submetidos.


3 – O GOVERNISMO É A ANTESSALA DA DIREITA REACIONÁRIA

Quando dizemos que o governismo é a antessala da direita estamos querendo dizer que o discurso corporativista que despolitiza as lutas, o pragmatismo que busca “resultados” imediatos dentro dos Conselhos antidemocráticos da universidade, a negação das assembleias gerais e das mobilizações de massas como os verdadeiros meios de exercício da democracia de base (e sua substituição por reuniões fragmentadas) foi a concepção de M.E. amplamente defendida pelas últimas duas gestões do DCE (PT) e que tem na vitória da direita apenas uma continuidade “radicalizada” desta concepção.

Um fato importante a ser trazido novamente à tona para entender a interseção das concepções de M.E. dos governistas e da direita, é recapitular a formação da Aliança pela Liberdade (atual gestão do DCE) , grupo fundado após a ocupação de 2008. A “Aliança” nasce de um racha da UEI (União de Estudantes Independentes, que se posicionou contra greves de professores e funcionários e contra a ocupação da reitoria), porém, a outra parte deste racha vai compor exatamente a gestão “pra fazer diferente” da Articulação do PT (2009).

Nas eleições para o DCE em 2010 a chapa de reeleição “Amanhã Vai Ser Maior” (PT) prosseguiu sua campanha, por exemplo, em defesa de “novos meios” de articulação dos estudantes e “contra a quadradice das assembleias”. Quanto a isso podemos dizer que cumpriram seu programa de mandato: não divulgando assembleias, não organizando as lutas e reivindicações estudantis! Ironicamente, quando a direita toma posse com um programa de “parlamento estudantil” (proposta essa que trocaria as assembleias gerais por representações difusas dos CA's) os governistas histericamente tentam se diferenciar desta proposta quando no fundo é de sua “irmã gêmea” que estão falando.

As últimas duas direções governistas do DCE aplicaram a política da direita-neoliberal por outros meios, assim como o próprio PT cumpre seu papel de privatização e precarização da educação em escala nacional. Nestes dois últimos anos, para além dos discursos “triunfantes”, o que vimos foram derrotas para os estudantes e vitórias para a direita: recredenciamento da FINATEC, silêncio total frente à precarização das condições de estudo via REUNI, Polícia Militar patrulhando o campus etc.

4 – SOMENTE UMA OPOSIÇÃO COESA E ARMADA COM UM PROGRAMA CLASSISTA E COMBATIVO PODERÁ SUPERAR O ATUAL MOMENTO!

A defesa exaustiva da “pluralidade” agiu como meio de garantir uma cortina de fumaça sobre as posições políticas das chapas, e demonstrou sua utilidade em favorecer um debate superficial e sem grandes conflitos, onde quase todas as chapas “pareciam falar as mesmas coisas”. As chapas de “esquerda” também se concentraram na “política pragmática do papel higiênico” e fugiram dos debates mais polêmicos (como polícia no campus, posicionamento sobre a UNE, REUNI, etc.) com vistas a não perderem votos. Na compreensão da Oposição CCI, o discurso “pluralista” e “tolerante”, que abdica das grandes polêmicas com a direita e com o governismo, tem sido historicamente o principal responsável por acobertar diante da base estudantil as posições mais atrasadas e reacionárias criando um consenso absolutamente nefasto.

A forma que nós estudantes devemos reagir à vitória da direita nas eleições do DCE não deve ser através de uma crítica passiva ou pelo ceticismo. Devemos tornar impossível a aplicação do programa da direita de privatização e elitização da Universidade e do DCE, devemos opor ao aburguesamento e ao “Parlamento Estudantil” a mobilização coletiva dos estudantes em assembleias gerais, fóruns de luta dos CA's, manifestações, ocupações e greves. Será no vazio da participação de cada estudante do povo que a direita se fortalecerá.

Devemos admitir que vivemos uma crise de organização e direção do M.E., e a simples tomada de aparatos não as resolvem. A tarefa é, portanto, rediscutir o modelo organizativo, que deve ser pela base (com militantes/coletivos impulsionando a luta em cada CA), refletir sobre os desastres dos métodos de conciliação com a Reitoria, adotando os combativos, bem como rediscutir em cada base as influências nefastas do governismo, do corporativismo etc. Com a crise que vivemos, a vitória imediata possível seria tão somente a de uma direção sem base. A tarefa de "vitória", para nós, é, portanto, de médio prazo, colocando a base para ter um papel ativo na luta.

Mais do que nunca, reafirmamos que, ao contrário da tática de se adaptar às condições políticas atrasadas que estão dadas, sustentar um programa classista, mesmo que em certos momentos se tenha que caminhar “contra a correnteza” (atuando como minoria), é o caminho correto a se seguir para avançar a consciência e organização estudantil. E que a única estratégia que poderá derrotar o atual DCE é de uma Oposição coesa, preparada para as batalhas prolongadas, como um núcleo duro que jamais cede, e articulada aos estudantes nos cursos. Por isso convocamos todos os estudantes de esquerda a construírem conosco a Oposição CCI ao DCE!


Una-se à Oposição Combativa, Classista e Independente!
Pela reorganização do Movimento Estudantil pela base!

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[1]  - Vide Germinal nº 6 no blog: www.oposicaocci.blogspot.com/O_GERMINAL_nº_6
[2] - O rebaixamento dos paragovernistas (PSOL e PSTU) chegou a tal ponto, que frente às eleições para Reitor pós-ocupação de 2008, o PSOL apoiou a candidatura de José Geraldo (PT) e o PSTU se manteve “imparcial”.



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Para baixar esta versão do boletim em PDF.,

domingo, 6 de novembro de 2011

VÍDEO-DEBATE: Sagrada Terra Especulada - A LUTA CONTRA O SETOR NOROESTE



VÍDEO-DEBATE:

Filme: Sagrada Terra Especulada - A Luta Contra o Setor Noroeste
Local: CALET - Centro Acadêmico de Letras
(Ala Sul do ICC, UnB, campus Darcy)
Data: Dia 9 de novembro - Quarta-Feira às 12h

 Organização: CALET 

Para mais informações da luta contra o Setor Noroeste, em defesa da demarcação das teraas do Santuário dos Pajés, ou sobre o próprio documentário que será apresentado, veja: