Leia nesta edição:
- Editorial especial 5 anos de CCI;
- A consulta “paritária” para a reitoria, o avanço da direita e os desafios dos estudantes da UnB;
- Parlamentarismo Estudantil: “Quando a solução para o doente é a eutanásia".
LEIA AQUI a versão em pdf.
* * *
O GERMINAL
Boletim
da Oposição Estudantil C.C.I.
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Nº27
-|Novembro de 2012 -| Edição Especial 5
anos de CCI
EDITORIAL
Em
comemoração aos 5 anos da Oposição CCI, lançamos esta edição especial de O
GERMINAL. Não haveria momento mais oportuno do que este para realizar uma
profunda reflexão sobre a situação ímpar na UnB da “maré” direitista que a
tomou. Tal momento nos reconduz às nossas tarefas fundacionais e à confiança de
que a força coletiva dos estudantes pode mudá-lo.
Pedimos
licença e desculpas pela extensa análise que apresentaremos. Mas é necessário
acabar com o mito de que “toda esquerda fala a mesma coisa”. E para isso temos
que fugir dos textos panfletários: é o que buscamos fazer nesta edição.
Queremos provocar cada estudante para tomar responsabilidade em parte do
problema que vive o Movimento Estudantil, identificando “quem é quem” e
avançando conosco no debate/resolução desta conjuntura amorfa na UnB.
Surgida
em meados de 2007, a Oposição CCI entendia como tarefa do momento lutar contra
a Reforma Universitária Neoliberal do governo Lula/PT, atuando como um germe no
interior do Movimento Estudantil para sua reorganização pela base em unidade
com a classe trabalhadora. Hoje, em fins de 2012, esta exigência permanece
atual.
Batizada
de forma a caracterizar nossos princípios, meios e metas, a sigla "C.C.I." postulava, já desde nosso
primeiro boletim, o norte político que nos balizaria até os dias de hoje:
"Combatividade: Mobilizar
as bases no sentido da ação direta, das greves, mobilizações de massas, ações
radicalizadas em lugar de ir a reboque do parlamento burguês", "Classismo: Unificar a luta dos estudantes proletários
com a luta dos trabalhadores, dar ao movimento estudantil seu papel de classe"
e "Independência: Que o
movimento estudantil seja independente de governos e patrões, partidos, que
possua fóruns de deliberação democrática direta."
Com
este mesmo norte, analisamos a UnB de 2012, que nas respectivas eleições da
ADUnB, DCE e Reitoria foi tomada pelos grupos de direita. Eleições estas, como
de CAs e DCE, que sempre participamos com a seguinte política: de que ganhá-las
a qualquer custo pode gerar mais prejuízos, e que é preferível defendermos
integralmente nossas bandeiras e posições, ainda que assim percamos, pois só
dessa forma somos capazes de construir uma sólida referência programática na
Universidade.
A
Oposição CCI decidiu, neste ano, não concorrer às eleições para DCE. Apesar de
não negarmos sua importância, as eleições nunca foram um fim em si mesmo para
nós. Mesmo destituídos de aparatos, somos capazes de disputar corações e mentes
do estudantado e a direção do Movimento Estudantil. Os problemas do ME não se
resolverão de forma meramente eleitoral: ao contrário, a (falta de) qualidade
da “esquerda” tem sido um problema
crônico. Nosso trabalho agora estará voltado aos cursos e à luta pela
assistência estudantil, liberando energia para construir referências de um
programa classista e combativo, combatendo imperiosamente a ideologia liberal e
pós-moderna e as políticas governista e paragovernista.
A
seguir, apresentamos textos que discutem o que representa a atual vitória da
direita na Reitoria através da eleição do Ivan Camargo? E a proposta do grupo
Aliança Pela Liberdade de instituir um "DCE parlamentarista" , que
diabos estão falando? E, nessa conjuntura, para onde ir e o que fazer? Uma Oposição
intransigente parece-nos cada dia mais necessária...
Boa
leitura! E todos à luta!
VIVA OS 5 ANOS DE LUTA E ORGANIZAÇÃO DA
OPOSIÇÃO CCI!
JUNTE-SE CONOSCO NAS TRINCHEIRAS DOS
ESTUDANTES DO POVO!
Texto 1
A
consulta “paritária” para a reitoria, o avanço da direita e os desafios dos
estudantes da UnB
Nos
dias 11 e 12 de setembro de 2012 ocorreram o segundo turno da consulta para a
reitoria da UnB. Estavam concorrendo a ela as chapas 80 “O Amanhã fazemos
juntos” encabeça por Marcia Abrahão e a chapa 86 “UnB somos nós” de Ivan
Camargo. Após a vitória da chapa 86 no primeiro e no segundo turno, é
fundamental que nós estudantes e demais setores da comunidade façamos um
balanço da atual situação que vivemos, de nossas formas e conteúdos de atuação
até então (que nos levaram a situação que hoje nos encontramos) e qual será os
desafios do movimento estudantil daqui para frente.
Sobre a
suposta paridade ou “aquilo que todos sabem mas ninguém comenta”
Sob a influência da concepção
meritocrática, está em vigência hoje em várias universidades o sistema 70-15-15
(70% do peso para professores, 15% para servidores e 15% para estudantes) nos
órgãos deliberativos e para eleição de certos cargos de gestão universitária.
Esta concepção se pauta na argumentação de que professores possuiriam maior
capacidade de escolha pelo futuro da instituição, obscurecendo assim as
questões políticas que dividem as categorias e as unificam em outros
agrupamentos que não o “estamental”.
Ao contrário do que muitos dizem,
de que chegamos ao “máximo de democracia”, os professores ainda continuam tendo
o maior peso nas decisões da UnB. Isso se expressa através: a) dos conselhos superiores e demais
órgãos DELIBERATIVOS e de GESTÃO que ainda funcionam com o sistema “70-15-15”; b) da Lista Tríplice com as opções de
reitorias que deve passar pelo voto do Conselho Universitário (não-paritário) e
após isso pela nomeação da Presidência da República (o que demonstra a
ingerência estatal ferindo a autonomia universitária); c) através da fórmula da “paridade”, utilizada também em 2008, que
garante o peso de 1/3 apenas se a totalidade do segmento for às urnas. Ou seja,
a consulta para a reitoria que acabamos de passar é apenas uma pequena parte do
debate da democracia universitária, mas que, pelos cargos da Reitoria serem tão
cobiçados pelos burocratas de todas as estirpes, se tornou a centralidade e ao
mesmo tempo a cortina de fumaça para uma verdadeira reflexão da estrutura
universitária.
Nós da Oposição Combativa
Classista e Independente (CCI) defendemos o voto universal para a reitoria e
demais órgãos de direção da universidade (chefes de departamentos, institutos)
assim como para todas as instâncias de poder dentro da estrutura universitária,
defendendo tal pauta incondicionalmente em relação ao período vigente, ou seja,
estando ou não em épocas de disputas eleitorais.
Conservadorismo,
doença infantil do reformismo capenga
Ainda que se devam fazer diversas
críticas à ausência de democracia na consulta, é preciso que se faça também uma
profunda reflexão acerca dos acontecimentos nos últimos quatro anos na UnB –
mais especificamente da Ocupação da Reitoria em 2008 até a presente eleição -
que levaram que o grupo ligado à concepção privatista da universidade (em
geral, pessoas associadas às gestões Lauro Mory-Timothy) tenha retornado ao
poder.
Se, após a Ocupação de 2008,
houve um ensaio geral de combate à cartilha privatista do sistema das Fundações
Privadas, com a Reitoria de José Geraldo seguiu-se um arrefecimento da luta em
função de necessidade de implementar com êxito o conjunto de macro reformas
impostas pelo governo na universidade, em primeiro plano o REUNI. Desse modo,
era necessário conter o movimento e impedir que ele viesse a gerar uma certa
radicalização que pusesse em cheque alguns pontos fundamentais das reformas em
curso, entre elas a manutenção do esquema de financiamento privado através das
Fundações ditas de apoio, projeto esse endossado pelo governo (vide a proposta,
já aprovada e aceita de bom grado pela reitoria José Geraldo, de transferir a
gerência de todos os HU´s do Brasil para uma Fundação dita Público-Privada, a
EBSERH).
Em virtude desse “compromisso
histórico” com os marcos do governo, os grupos políticos governistas que
estiveram a frente da Reitoria, DCE e Sinfub nos últimos anos optaram por não
comprar uma briga – tanto política, quanto ideológica – com a concepção conservadora
da universidade da era Timothy, que diga-se de passagem nunca deixou de ser
hegemônica, principalmente entre os professores. Desse modo, o que as urnas nos
dizem hoje é que o conservadorismo não precisa de ninguém além dele próprio
para alçar seus vôos, isto é, se o reformismo dos grupos governistas não for
capaz de levar a cabo uma mudança estrutural na concepção de universidade
privatista-clientelista, e quiser apenas usufruir dela para conseguir cargos, a
agenda neoliberal irá retornar com toda sua força, sem necessidade de auxílio
nenhum da dita “esquerda”. Como nós da Oposição CCI já alertávamos em 2008 na
época da Ocupação, o timothismo irá “ceder os anéis para não perder os dedos”.
Agora, refortalecido, ele está a pedir os anéis de volta.
Daqui cabe a conclusão política
fundamental desse balanço: não existe meio termo entre as concepções populares
da universidade e a privatista neoliberal da futura reitoria (e, diga-se de
passagem, aceita pela gestão petista de José Geraldo). Caso estejamos lutando
por uma universidade verdadeiramente a serviço das causas populares, não é
possível se conciliar, ou aceitar, qualquer compromisso com o conservadorismo
prevalecente e sua agenda neoliberal, que deve ser combatida pela raiz e em
todos os seus desdobramentos. Como vêm demonstrando os ataques globais à
educação pública (vide Chile, Colômbia, Canadá, Itália, para não falar na
Grécia...), a ofensiva do capital tem exigido de governos que levem a cabo uma
maior austeridade em relação aos gastos sociais em função da bonansa dos
rentistas, e esse movimento geral tende a se agravar aqui no Brasil também,
sendo a futura reitoria claramente a favor desses ventos.
A disputa
entre “direita” e “esquerda” na UnB: confluência neoliberal e disputa
burocrática
Os partidos e grupos governistas
(PT, PSB) tentaram criar durante o segundo turno um clima de disputa
programática entre as chapas concorrentes - mera ilusão. Ao mesmo tempo, a
própria Márcia Abrahão tornava seu discurso cada vez mais genérico e vago a fim
de conquistar a base reacionária de professores e estudantes. De modo geral, a
campanha do “Amanhã Fazemos Juntos” baseava-se em dois pontos fundamentais: i) a questão ética e ii) a gestão democrática. Por mais que
de fato a chapa “UnB somos Nós” defendesse exatamente o mesmo modelo corrupto e
corruptor da era Timothy, tecer uma crítica “ética” não era suficiente, pois
ela não abarca as questões estrutural e programática de fundo. Caso fossem
abordá-las, o clima de indiferenciação imperaria, já que restam mais semelhanças
do que diferenças programáticas nestes quisitos.
Sobre a dita gestão democrática,
é verdade que os conselhos superiores seriam mais ativos e participativos na
gestão da Márcia Abrahão do que na futura gestão de Ivan Camargo, que chegou a
defender a centralização das deliberações no conselho diretor da FUB (!),
ponta-de-lança de todos os esquemas de corrupção. Mas, mesmo assim, de nada
adianta tais conselhos se sua estrutura não-paritária e anti-democrática
continuasse em vigor. De fato, nesse caso, a participação através deles ainda
sim seria mais figurativa do que realmente efetiva.
Sendo assim, é claro que há
diferenças de metodologia entre a direita e a esquerda governista na aplicação
das políticas neoliberais, devendo-se a isto suas próprias construções
históricas. A primeira aplicando quase unicamente através da repressão estatal
e estruturas anti-democráticas, e a segunda combinando a repressão com a
cooptação das organizações sindicais e estudantis. Apesar dessa diferenciação,
existe uma política nacional de modelo de universidade elitista e neoliberal
que vem confluindo a algum tempo as forças da “esquerda” governista (PT, PCdoB,
PSB) e de direita (PSDB, PMDB). O combate a tal política universitária, a nosso
ver, é a “grande política” que deverá ser tocada pelos estudantes do povo e que
coloca diante de nós tanto a “esquerda” governista como a direita no campo dos
inimigos da Universidade Popular.
As tarefas
dos estudantes do Povo!
Diante dessa realidade, o
movimento estudantil necessita dar muito mais do que “tapas com luvas de
pelica” na burocracia neoliberal. É necessário que se faça uma crítica
profunda, radical, às bases do atual modelo de universidade e de reforma
educacional em curso no país. O caminho proposto por alguns grupos de “unificar
toda a esquerda” (incluindo aí os setores governistas) para “derrotar a
direita” pode parecer, à primeira vista, tentador. Porém, agindo assim,
teríamos por consequência trocar a crítica qualificada e radical por coligações
meramente eleitorais, por votos “fáceis” e por um rebaixamento do programa
político para comportar “toda a esquerda”, o que só reforçaria nossa
incapacidade de nos contrapor ao discurso neoliberal e reacionário em curso. As
recentes eleições do CASESO e do CAFIL, onde direitistas da atual gestão do DCE
e petistas compuseram chapas conjuntas, demonstram a falácia de tais propostas
“anti-direita”.
Nós da Oposição CCI seguiremos
afirmando que: o pragmatismo que
substitui o trabalho árduo de transformação da consciência e da organização
estudantil por resultados eleitorais em eleições de CA's e DCE nos anunciam as
piores derrotas.
Um verdadeiro combate ao avanço
da direita e do neoliberalismo nos leva precisamente a um caminho contrário - e
mais longo, é verdade - daquele que nos propõe os grupos burocráticos de
“esquerda”: 1) É necessário fazer um
massivo trabalho de base, de sala em sala, de curso em curso, fortalecendo os
organismos de base do movimento (os CA's e suas Assembleias) e trazendo eles
novamente para a luta estudantil, articulando-os às lutas unificadas e
Assembleias Gerais; 2) Criar fóruns de CA's, que possam ser órgãos
independentes, que gerem experiência de organização e luta nas bases; 3)
Fortalecer a política de Oposição permanente (em contraposição às “oposições”
formadas em períodos eleitorais) que esteja atuando de forma organizada e que
consiga confluir os esforços combativos de cada estudante num mesmo sentido; 4)
Construir uma crítica/ação radical contra o atual modelo de universidade
elitista e neoliberal em curso no país bem como em defesa de uma Universidade
Popular a serviço da classe trabalhadora, ou seja, disputar no movimento
estudantil um programa classista e combativo.
Texto 2
PARLAMENTARISMO
ESTUDANTIL:
“Quando a solução para um doente é a
eutanásia”
A
chapa "Aliança Pela Liberdade" foi eleita em outubro de 2011 para a
gestão anual do Diretório Central dos Estudantes (DCE-UnB). O grupo majoritário
da chapa possui orientação política liberal e uma filosofia meritocrática,
simpáticos à teoria burguesa de organização do Estado-mínimo, da economia de
livre mercado e também da Universidade Privada. Tal orientação
político-filosófica é marca de suas ações e concepções sobre o que seja/deva
ser o Movimento Estudantil (ME). Resulta disso sua proposta "diferencial"
que tentou levar à cabo no fim do mandato e com a qual disputará a gestão
2012-2013 de "transformar o DCE presidencialista em parlamentarista",
que foi/será objeto de caloroso debate. Mas, enfim, o que diabos significa este
"DCE parlamentarista" proposto por estes jovens liberais?
Da aparente
identificação do problema à sua aparente solução
Ao longo de suas atividades e
declarações, o grupo "Aliança Pela Liberdade" afirma que os
principais problemas do ME na UnB são: (1)
um ME que "não reflete mais os interesses e as demandas da grande maioria
dos estudantes"; (2) a
transformação do DCE em "estágio na formação de políticos
profissionais"; e, por fim, (3)
a baixa participação dos estudantes nos espaços do ME, pois estes "não se
enxergarem nos grupos organizados". Estes problemas, afirmam, teriam como
causas principais: (a) o
aparelhamento do DCE por partidos políticos, que (b) inserem um "excesso de assuntos externos à universidade
[para] dentro da pauta" do ME.
O que há, em nossa visão, de
equivocado nisso tudo? Em primeiro lugar, apesar da Oposição CCI ser precursora
dentre os atuais grupos estudantis na UnB da crítica vigorosa à um DCE
utilizado como trampolim às eleições estatais e recorrente correia de
transmissão dos governos de plantão, resultando num tipo de burocratismo e em
práticas ensimesmadas que não estimulam a ação política do estudantado,
divergimos frontalmente da "Aliança pela Liberdade" no apontamento
das causas deste problema. Dizem eles que os
partidos políticos e a intromissão de assuntos externos à UnB são os
principais problemas de um DCE. Este argumento débil é típico do apartidarismo
clichê e não se sustenta sob a crítica.
Sobre os partidos políticos,
repetimos o que dissemos nas eleições para o DCE em 2011: "Contra o
apartidarismo, podemos dizer que não se faz política no vácuo. Mesmo estudantes
que creem se engajar de modo apartidário acabam, no curso prático de suas
atuações, por endossar uma visão política-ideológica qualquer, encontre ela
referência partidária ou não." E que "parte da aversão dos estudantes
por partidos se dá não pela existência dos partidos em si, mas pela atuação
destes, em especial na subordinação dos interesses do movimento aos fins eleitorais
burgueses que almejam.”
A respeito do temido “assunto
externo”, afirmamos, também em 2011 que é impossível "separar problemas da
educação de uma realidade social mais ampla, que produz as condições, os meios
e os fins do sistema educacional. Não há visão mais ingênua do que crer que as
contradições da UnB não correspondem a uma expressão particular das
contradições sociais às quais estamos submetidos. Desse modo, por trás de
problemas aparentemente triviais existe uma longa cadeia de conflitos sociais
que determinam o modelo educacional existente". Assuntos externos, taxados
assim pejorativamente, podem ser, portanto, elementos causais de uma parcela
dos problemas do cotidiano educacional da UnB; ou podem ser objetos de estudo
da academia ao qual esta tem a contribuir. Mas isto qualquer estudante de
introdução à ciência política já deveria saber.
Mas, enfim,
como funcionaria esse DCE parlamentarista?
Na proposta “parlamentarista”, a
eleição da diretoria do DCE seria realizada de forma indireta através dos
membros dos Centro Acadêmicos (CAs) presentes no Conselho de Entidades de Base
(CEB), e não mais por eleição universal (1 estudante = 1 voto) e majoritária
(gestão formada pela chapa que obtém maioria de votos). A diretoria do DCE,
segundo a proposta, seria formada necessariamente por membros dos CAs e teria
apenas poderes executivos, sendo o CEB o poder “legislativo”. Ademais, o DCE
seria composto, entre outros cargos, de um Presidente com direito à voto de
minerva nos CEBs. O "parlamento", ou seja o CEB, seria um órgão
soberano, com poderes de eleger e dissolver este mesmo DCE. Ao invés de
pertencer ao voto direto e universal dos estudantes da UnB a eleição ou
destituição da diretoria do DCE, este poder pertenceria exclusivamente aos
membros dos CAs presentes nos CEBs. Em sua proposta, o CEB passaria a ser a
instância superior à Assembleia Geral e inferior somente ao Congresso
Estudantil.
A abordagem
do problema: materialismo dialético versus
pragmatismo unicausal
Para a “Aliança”, o problema que
justificaria a proposta deste “DCE Parlamentarista”, seria (1) um DCE "distante da realidade dos alunos" e um CEB
que não realiza suas funções de "fiscalizar e deliberar" e (2) uma centralização na Diretoria do
DCE para definir as pautas do ME, tendo o CEB supostamente pouca ou nenhuma
autonomia para isso. Afirmam, ainda, que o “parlamentarismo” iria “aumentar a
participação dos estudantes em geral no processo de tomada de decisões”,
supostamente porque os CAs, através do CEB, “proporciona uma representação mais
efetiva das opiniões e interesses dos estudantes do que a Assembleia Geral”. A
“Aliança” entende que as Assembleias Gerais são instâncias inerentemente falidas
e querem suplantá-las. Ora, não somos cegos para afirmar que não há um problema
de massificação/participação geral nas instâncias do ME: evidente que há. Mas o
que a “Aliança” pretende fazer é jogar fora o bebê junto com a água suja!
Não nos enganemos: a ideologia da
“Aliança” é contrária ao Movimento Estudantil que pratica ação de massas.
Almejam um DCE pragmatista que se envolve em ações de tipo burocrática na
representação das demandas dos "estudantes-que-estudam"
(um pré-conceito taxativo que gostam de usar). Querem fazer apenas a
"política do possível" (um ME "corporativista e de resultados”),
sem confrontar os limites da ordem universitária (e societária!) estabelecida,
marcada profundamente pelo elitismo. Ao tratar, por exemplo, as Assembleia Gerais
– vista, é claro, apenas em sua superfície – como “inerentemente falidas”, a “Aliança” trata as imperfeições do
momento como se fossem naturais e, ao não conseguir (ou melhor, não
pretenderem) superá-las, adaptam-se a elas. Diga-se de passagem, esta mesma
adequação às imperfeições do momento é praticada pela “esquerda esquizofrênica”
na UnB – os governistas (UNE/PT/PCdoB) e paragovernistas (ANEL/PSTU,
OE-UNE/PSOL). Estes, se em discurso podem até enganar a Juventude Conservadora
como sendo “revolucionários” (sic), na prática são “outro alguém” que
compartilha as ações de tipo burocrática dos seus primos liberais, portanto
parceiros de um grau de parlamentarismo estudantil, uma vez que não atuam para
romper o imobilismo político da base, mas que sempre em épocas de eleições (DCE
e Reitoria) aparecem para fazer tempestade em copo d'água com seus discursos
vazios, como se ganhar tais aparatos fosse a cura de nossos males – e para os
ganhar vendem a alma até para o diabo!
A "Aliança Pela
Liberdade" entende que a dimensão da participação
no Movimento Estudantil é passível de ser reduzida à dimensão da representação. É assim que uma
Assembleia Geral, mesmo com quórum, poderia ser substituída por um CEB, ou uma
manifestação substituída por um UnB-DOC, ou uma passagem em sala por uma
consulta no facebook. E a “Aliança” não é capaz de propor nada além de um “CEB
forte”. O primeiro equívoco aí é supor que no momento atual os próprios
CAs seriam órgãos dotados de ampla participação dos estudantes de seus cursos,
cuja funções políticas seriam travadas com excelência: sabemos que não é assim.
Infelizmente, os CAs hoje estão entregues a grupos que não passam de
semi-empreendedores de festas ou que, mesmo que com gestões dotada de vontade
política, raramente conseguem tratar os problemas sócio-político-educacionais
com relevância, nem estimular ampla participação nas próprias Assembleias de
curso ou em mobilizações para interesses particulares que seja. Para a Oposição
CCI, os CAs tem um papel basilar na reorganização do ME, pois os cursos seriam
quase que “unidades básicas” da totalidade da universidade, e unidades básicas
deficitárias dificilmente gerariam uma totalidade atuante. É por isso que um
“CEB forte” não resolveria nem de longe os problemas da representação, menos
ainda da participação (entendido como ação direta). Até porque, se os partidos
políticos e a intromissão de assuntos externos seriam, para a “Aliança”, os
principais problemas do ME, nada impediria que os mesmos partidos atuem nos CAs
e então reproduzam problemas similares.
O segundo equívoco,
consequência de sua visão de “Movimento tipo UnB-DOC”, é crer que uma gestão de
DCE é mera executora de tarefas burocráticas e que, para tanto, não necessita
de um agrupamento sólido, com consistência e unidade política e organizativa
para tocar suas tarefas. Sem tal unidade podemos até aglomerar forçar políticas
das mais distintas para ganhar um DCE, é verdade, mas seremos incapazes de
agir, pois cada parcela no interior do DCE apontaria para um lado, e logo anular-se-iam
mutuamente. Aliás, novamente é isso que pretendem fazer UNE e ANEL nas próximas
eleições de DCE: de acordo com um lema similar de “unir toda a esquerda”, eles
preferirão ganhar o DCE a qualquer custo e se esfacelar depois internamente:
nada mais burocrático!
O terceiro equívoco é,
ainda que concordemos que a dimensão representativa para a organização e
dinamização de um movimento na proporção de milhares ou milhões de pessoas seja
crucial, pois seria inviável o encontro presencial destes, a saída está em
pensar e resolver o problema da participação
política. No entanto, estes “estudantes-que-estudam” da “Aliança” não
enxergam três questões determinantes, entre outras, postas na realidade da
vida: a geográfica, a sócio-político-cultural e a histórica: A Geográfica, pois, falando
da UnB, estamos dizendo de uma escala territorial que permitiria sim o encontro
presencial entre uma percentagem considerável dos estudantes; evidente que isto
dependeria das variáveis de mobilização: capacidades do movimento e a
conjuntura política. Mas mobilização, com agitação e propaganda, certamente é
um termo que não consta no vocabulário da "Aliança". Aglomerar o
estudantado em espaços de Assembleias Gerais é indispensável, onde tem-se a
possibilidade do confronto de argumentos e da superação de velhas por novas
ideias; Sócio-político-cultural, pois o movimento estudantil, por sua
natureza, nasce autônomo e destituído de poder oficial tendo que, para atingir
certas demandas, confrontar-se com estes mesmos poderes (departamentos,
reitorias, conselhos superiores, governos e empresas) e, para tanto, o faz por
meio de mobilizações de massa, ou seja, (inter)ações onde cada indivíduo compõe
a força coletiva: Ações de massa ocorrem com calor dos corpos ocupando os
espaços que sejam necessários de forma direta e não-delegada; e Histórica,
pois vivemos um período chamado por alguns de “pós-ideológico”, de “fim das
utopias”, onde a “vitória do capitalismo” atestaria o suposto “fim da história”
sobre o socialismo e onde a maioria dos setores que seriam considerados de
“esquerda” adaptam à maré pós-moderna e/ou desenvolvimentista do capital, em
que o maior exemplo é o PT ser o gestor de um Estado-capitalista a beira da
crise e com ele carrega as principais organizações populares (UNE, CUT etc.)
para a vala da inação institucional-burocrática: este período histórico tem
forte influência sobre o refluxo político-organizativo que passa o movimento
estudantil. Mas este deve ser um assunto muy
“externo”...
A solução
não é o atalho: “É preferível andar uma légua do que afogar uma égua”!
Não constatar a essência do
problema do esvaziamento do ME faz a “Aliança” se ater à suas aparências. A
verdade é que, não pretendendo mudar
esta essência, pois a ideologia liberal é parte dela, pretendem apenas domesticar
o que resta de potencial no ME: sua capacidade crítica e combativa. A
“Aliança”, no fundo, não propõe nada além que a morte definitiva do Movimento
Estudantil. Pois um movimento sem contato cara-a-cara, sem o caloroso
debate de ideias fundamentadas, sem passagens em sala, sem manifestações,
ocupações e sem confrontar a ordem estabelecida, simplesmente não é Movimento
Estudantil: é um movimento de conservação.
Estamos sob o ataque imperioso da
reestruturação produtiva, da ideologia pós-moderna e da política neoliberal.
Resistir e intensificar os trabalhos de base, reintroduzindo o debate político
no vazio deixado pela esquerda burocrática na UnB: eis nossa tarefa para
combater a direita . Desconfiemos daqueles que nos propõem rápidas e fáceis soluções.
Agrupemo-nos como uma oposição sem concessões às teorias liberal-burguesas.
Ousemos voltar a acreditar no vir-a-ser do Movimento Estudantil Classista,
Combativo e Independente em luta por uma Educação
a Serviço do Povo: nossa tarefa histórica.
Una-se à CCI! Pela reorganização do
Movimento Estudantil COMBATIVO!
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