O GERMINAL
Boletim da Oposição Estudantil C.C.I.
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Ano VII, nº32 - Março
de 2014 - Desde 2007 na luta pela Universidade Popular
Quando o “novo” fica velho:
cotas, esquerda, Aliança e o CEB proto-Parlamentar[1]
Preto na universidade causa mesmo
problema. Em pleno debate que se institui na UnB sobre retirada ou adição das
cotas raciais às cotas sociais, o espaço do movimento estudantil parece não
pertencer aos estudantes. O Conselho de Entidades de Base (CEB – reunião do
todos os Centros Acadêmicos da UnB) convocado para 20 de março, dirigido pela
gestão do DCE - Aliança Pela Liberdade, preferiu debater festas e ignorou as
cotas. Poderiam ter fingido algum interesse no debate. Mas nem a presença significativa
do movimento negro convenceu a Aliança. Vão ficar confinados na opnião
“democrática 2.0”, mera virtualidade. Os pretos novamente tiveram que se
retirar do espaço. Era que, presencialmente, discutir os investimentos, lucros
e riscos do Bota Fora era mais importante.
Até aqui nada de novo. É o que a
Aliança se propõe, é o que a Aliança faz. Mas seus métodos são cada vez mais
aprimorados. Neste CEB, os Centros Acadêmicos nem tiveram a oportunidade de
votar a pauta antes do início da sessão. Nem antes, nem depois. Durante a pauta
das festas, a segunda fala de um colega do serviço social criticou que na
oportunidade estávamos deixando de debater cotas e propôs a alteração da pauta.
Uma questão de ordem que sequer foi considerada. Como se diz no jargão, a
direção do CEB “atropelou”, “tratorou”.
Mas tudo que é ruim pode piorar. Como
não foi debatido a pauta no início da sessão do CEB, ao término da primeira
pauta – eleições do DCE – a Aliança passou imediatamente para o outro assunto
de seu interesse: as “populares” festinhas terceirizadas. Neste ponto tudo fez
sentido: festas e (re)eleições de DCE.
É compreensível. Talvez tenha
aumentado, mas não seja significativo a presença dos pretos e pobres na
universidade. Logo, para que discutir cotas? A Aliança é favorável ao mérito, e
certamente consideram menos mérito ingressar na UnB por cotas. Então se a
grande parcela dos estudantes é branca e de classe de renda média e alta,
festas talvez seja mesmo uma demanda mais emergente deste “mundo acadêmico”. Ao
fazê-las, mais votos deste público, da “clientela” desta gestão.
Mas o que foi debatido na pauta “eleições”?
Composição da Comissão Eleitoral. Justo. Já que a atual gestão do DCE deveria
ter encerrada ano passado. Dois acontecimentos aparentemente sem importância
merecem destaque. Primeiro, antes do início da eleição dos membros titulares e
suplentes da Comissão, um estudante das ciências sociais quis adicionar seu
nome e foi sumariamente vetado, tanto pela direção do CEB quanto pelo plenário,
que se manifestou contra ou se calou. A alegação foi que, regimentalmente, os
nomes deveriam ter sidos propostos até o início da sessão do CEB. Porém,
regimentalmente, também se fala que os “postulantes a membros da Comissão
Eleitoral deveriam estar presentes”. Um estudante da Engenharia não estava, e a
Aliança permitiu que seu nome permanecesse na lista da Comissão. Ignorou o
regimento neste caso. Usou dois pesos e duas medidas. Porque?
Segundo, é o motivo da insistência da
Aliança na gestão do DCE mesmo tendo encerrado seu mandato. Esta questão de
ordem foi colocada no CEB, e ignorada. Foi proposto que a atual Comissão
Eleitoral, uma vez eleita, assumisse inteirinamente o DCE a partir dali até a
ocorrência da próxima eleição. Qual alegação da Aliança para inviabilizar até
mesmo o debate desta vez? A ata da Comissão Eleitoral deveria ser protocolada e
autenticada pelo Cartório de registros. Só depois da Ata ser considerada válida
pelo cartório poderia iniciar o processo eleitoral e só assim entregariam a
gestão. Mas o que isso significa? Que a deliberação dos estudantes está
subordinada a tutela de uma instituição reconhecedora de firmas e contratos.
Quer dizer, uma instância que em nada tem a ver com o movimento estudantil. Um
ente externo perante o qual devemos prestar contas e submeter nossas
deliberações e documentos. Como se o CEB não fosse legítimo em si mesmo para
ratificar sua Ata de reunião. O cúmulo da ingerência. Um absurdo burocrático.
E a “esquerda”? Bem, ninguém se
manifestou. Certamente estavam atônitos com as próximas eleições de DCE, nem
mesmo crítica a terceirização das festas fazem agora. Todos aqueles partidos
que a Aliança genericamente gosta de criticar – PT, PCdoB, PSTU, PSOL , todos
presentes, inclui-se Honestinas –, nenhum destes afirmou oposição diante da
preferência das festas em detrimento das cotas, da inclusão de um nome da lista
da Comissão Eleitoral e da extensão por motivos burocráticos da gestão do DCE.
O PT ainda se expôs ao ridículo ao falar que votou errado para um nome da
Comissão e quis voltar atrás. É óbvio que todos, inclusive a direita,
reconheceu o oportunismo. O CEB negou.
Parece que esta esquerda partidária-eleitoral,
igualmente burocrática, andou ensinando e aprendendo com os liberais da
Aliança. O que estes partidos fazem no movimento sindical, permitindo a tutela
do Estado e do Ministério do Trabalho sobre o movimento dos trabalhadores,
agora a Aliança reproduz com adaptações no movimento estudantil. A Aliança é o
“petezinho” na UnB, tudo que fere seus interesses e o “governo central” – a
Reitoria, eles blindam. Ao fim, ela fez do nosso movimento o que os partidos
eleitoreiros tanto ensinaram nos últimos anos: autoritarismo e burocracia. A
exemplo do CEB, transformou o movimento estudantil num proto-parlamento. O povo
não tem voz. E os pretos e pobres sairam perdendo hoje, novamente. Até quando?
Junho mostra o caminho: vai ser necessário uma insurgência na UnB!
Oposição CCI – Combativa, Classista e Independente ao DCE da
UnB
7 anos na luta com democracia de base e ação direta
[1]
A Aliança Pela Liberdade foi eleita em 2012 defendendo
o “parlamentarismo estudantil”, proposta formalmente rechaçada pelo CEB. No
entanto, na prática, transformaram as instâncias do movimento estudantil
naquilo que conceberam como “parlamentarismo”. Para entender esta concepção e a
crítica, leia O GERMINAL nº27, de novembro de 2012: www.oposicaocci.blogspot.com
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