No último dia 24, durante as comemorações
de aprovados no segundo vestibular de 2013 para a UnB, estudantes da
Engenharia de Redes ergueram um cartaz no qual se lia “Caiu na Redes é… (estupro)“.
A atitude vem gerando grande repercussão, desde acalorados debates nas
redes sociais e a instauração de um processo de investigação pela
Reitoria. Os dois alunos que aparecem na foto segurando o cartaz
emitiram notas na qual se mostram “arrependidos” pela atitude de “mau
gosto” (suas notas podem ser lidas em http://www.facebook.com/dce.unb) . É preciso tomar partido nesta discussão.
Suas notas representam uma atitude mínima
após tamanha ofensa e incitação à violência contra as mulheres.
Certamente a escreveram como demonstrativo de “arrependimento”, no
mínimo em consequência do devido repudio da comunidade universitária.
Não se pode julgar sua sinceridade senão através de suas práticas e
estas, portanto, permanecem a prova. Porém devemos nos perguntar: será
que eles emitiriam as notas caso não houvesse tamanha publicidade de
suas posturas? E, ainda, qual será a consciência do ato realizado
através do teor destas notas?
Indo além do caso em particular, a
primeira compreensão que se deve ter é que tais atitudes de desrespeito e
violência contra as mulheres pelo fato de serem/sermos mulheres é
disseminada socialmente como se fosse algo normal. Esta naturalização da
opressão contra mulheres, consciente ou inconscientemente, fica
explícita nos trechos em que os alunos em questão falam, por exemplo
que: “nossa intenção era fazer um trocadilho”, “jamais foi minha
intenção fazer apologia à prática de estupro”, “nunca tive a intenção de
ofender “, foi um “ato inconsequente e impensado” etc.
Quer
dizer, se se considera verdadeiro o declarado, tem-se que a intenção de
uma “simples” brincadeira pode carregar toda sua inconsequência. E
isto, definitivamente, não pode ser tratado de forma simples. Os alunos,
e anteriormente a própria gestão do DCE, declararam ter sido a atitude
de “mau gosto” e “infeliz”. É preciso que se diga: estupro não é questão de gosto!
É uma ação de profunda violência física e psicológica contra a
integridade de uma mulher e gera marcas por toda uma vida. E isto não
pode ser sequer comparado com o fato dos rapazes terem seus “nomes e
rostos expostos na mídia de maneira devastadora”. É preciso assumir as
consequências de seus atos, refletidos ou não. Não fosse o repúdio,
talvez sequer tivéssemos lido suas notas de “arrependimento”.
Se os dizeres no cartaz não chegaram as
vias de fato, sua (nada) simples apologia é a reprodução da
permissividade social e ideológica de violência contra as mulheres. É
esse contexto de permissividade ideológica que incentiva a prática e
muitas vezes garante impunidade aos opressores. Não se pode admitir,
portanto, que e incitação ao estupro seja um “incidente” de menor
natureza, pois não é. É a verbalização favorável a um ato de violência e
subordinação das mulheres que, desgraçadamente, ocorrem todos os dias.
Mas é preciso dizer um basta! Um basta a objetificação das mulheres como
propriedades!
Além disso, como se já não fosse
“excludente o suficiente” as barreiras para ingresso nas universidades
federais – expresso pelo péssimo ensino básico público, falta de
investimentos para o ensino superior, a necessidade do trabalho e o
próprio vestibular que deixam milhões de fora –, as posturas ultrajantes
de incentivo à violência contras mulheres partindo dos próprios
acadêmicos apenas reforçam este elitismo. Temos, ao contrário, que lutar
pela completa democratização e universalização do ensino superior
público, e não reproduzir hostilidades por antecipação para que mulheres
deixem de ingressar na universidade ou em determinados cursos por medo
de que supostamente seu sexo permitiria violação por outros. Não
aceitamos tal suposição!
Por fim, repudiamos veementemente a
atitude destes rapazes. E ao invés de apenas defender as devidas sanções
institucionais, é preciso trazer o problema para o cotidiano e sua
resolução principalmente através dos centros acadêmicos. Debates e
reflexões devem ser realizados, desde o instante do ingresso de
calouros/calouras, sobre a condição de opressão contra as mulheres em
geral e a superexploração sobre as mulheres trabalhadoras – tal como as
terceirizadas de nossa universidade, com baixos salários, assédios
morais, falta de direitos como creches públicas ou licença maternidade
etc. Devemos repudiar a naturalização da opressão em nosso convívio
cotidiano, sem nos deixar levar pelas “euforias do momento” e pela
ideologia dominante. É, acima de tudo, indispensável a ação de
protagonismo das mulheres, junto aos homens, na luta contra as
opressões.
A nossa luta é todo dia: contra o racismo, o machismo e a homofobia!
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