sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Contribuição ao debate sobre os desafios da luta pela Assistência Estudantil


19/09/2013 - Saída da ocupação após imposição de nossas demandas


As lutas pela Assistência nesse segundo semestre de 2013 deram uma nova dinâmica para o Movimento Estudantil da UnB. Diferentemente das anteriores tentativas de organização dos estudantes pobres (puxadas principalmente pela Anel/PSTU), que caíram e se afundaram nas ilusões burocráticas de reuniões infindáveis com a Reitoria, este semestre já começou com a ocupação da sala do CASSIS (BT 260) e durante quase todo o processo o CASSIS organizou diversas ações diretas no Restaurante Universitário (os “catracaços”) sendo que a repressão policial na desocupação forçada do CASSIS gerou as condições, acumuladas com as anteriores (os problemas e insatisfações em relação à moradia, etc.) da ocupação da Reitoria. Portanto, a ação direta (ocupações e “catracaços”) deram o tom desse processo de luta que terminou (parcialmente! pois apenas começou) vitorioso.


O que também podemos ver muito claramente após a ocupação da reitoria é que o método da Ação Direta (manifestações, ocupações em oposição aos métodos Legalistas e Burocráticos) nunca esteve deslocado do Trabalho de Base, ou seja, do diálogo franco e direto com a ampla massa de estudantes. Na verdade, o levar a sério e o aprofundar deste método na prática não só trouxeram as vitórias imediatas na ocupação, como também prepararam o terreno ideológico da disputa que poderá ocorrer a médio prazo com as forças políticas conservadores e oportunistas que boicotam o processo de fortalecimento coletivo e combativo do movimento estudantil. 

Essa disputa em médio prazo é aberta principalmente através da evidenciação prática (fruto das próprias contradições e polarizações abertas pela luta do CASSIS) de que os métodos Legalistas utilizados e defendidos pela Aliança Pela Liberdade/DCE não são capazes de solucionar os problemas reivindicados pelos estudantes pobres, nem a curto, nem em médio, muito menos em longo prazo (a construção de uma Universidade Popular). É claro que o método legalista indica sim a possibilidade de pequenos ajustes dentro da lógica dominante (a conquista de pequenas benesses, especialmente a cursos e setores estudantis já privilegiados), mas nunca a possibilidade de sua ruptura (nem mesmo, na maioria das vezes, "rupturas" parciais que imponham reivindicações populares), tal é o aprendizado prático que levou à ocupação imediata da Reitoria, ou seja, o confronto direto por reivindicações básicas não atendidas e a instintiva repulsa ao DCE. 

Por outro lado, o povo trabalhador em geral (e nesse caso os filhos do povo, os estudantes pobres da UnB) aprendeu por uma dura experiência que apenas a Ação Direta de Massas corresponde a um método condizente com sua condição de classe oprimida e suas pautas reivindicativas, e isso pelo simples fato de que suas reivindicações não correspondem com a lógica dominante anti-democrática reproduzida dentro da instituição e, portanto, não podem ser por ela aceita pacificamente e através de "conchavos políticos" (ou, por outro lado: da anti-democracia e do elitismo não sairá o democrático e o popular), e quanto mais a luta vai avançando e as posições políticas vão ficando mais claras e polarizadas (por exemplo: Reitoria/DCE versus CASSIS/Estudantes do povo) mais a Ação Direta se torna necessária e óbvia. 

Em resumo: os playboyzinhos da Aliança Pela Liberdade (playboys senão em condições materiais, certamente em condições ideológicas) podem pedir, negociar, politicar com os seus iguais da burocracia universitária, e não por acaso pensam um modelo de "DCE parlamentarista" onde possam livremente estabelecer suas promiscuas trocas de favores e conchavos de gabinete; os estudantes do povo, por sua vez, podem contar apenas com sua própria força e dos seus aliados (terceirizados, professores e servidores) e, longe dessa força ser pequena, caso esteja organizada e consciente de suas tarefas, de seus inimigos e de seus próprios desafios, nada poderá pará-la. 

Quanto mais uma reivindicação for polêmica e não puder chegar a um consenso (a um acordo comum e "civilizado") com a burocracia da universidade, mais o método da Ação Direta e do Conflito se torna evidente. Porém, é natural que nossas principais reivindicações, aquelas que de fato poderiam trazer modificações estruturais a situação do estudante pobre e dos trabalhadores, não terão aceitação da burocracia universitária, muito menos do DCE. E não será o número de reuniões, cartas, e tentativa de "convencimento" que irá modificar essa situação (de interesses de classe antagônicos!). 

É por isso, camaradas, que afirmamos que a conciliação e os conchavos de gabinete hoje (travestidos de "pragmatismos", etc.) preparam as ilusões e as derrotas de amanhã, ao não fortalecer a ação coletiva dos estudantes. E é por isso que a Ação Direta faz voltar nossos olhos para a BASE, para as massas de estudantes e trabalhadores, únicos capazes de ARRANCAR pela sua força de mobilização suas justas reivindicações, e é por isso que ela conquista não só as vitórias de hoje, mas, se desenvolvida e organizada, prepara as vitórias de amanhã, onde as batalhas serão muito mais árduas.

Nossa tarefa agora na luta pela assistência estudantil é 1) continuar um trabalho político junto às bases (cursos, salas de aula etc.) e demais polos de aglutinação (RU, ônibus, fila 110 etc.), com debates, campanhas e propaganda, aproveitando da ampla rede de solidariedade formada em torno da causa e 2) aperfeiçoar a organização do CASSIS, suas comissões e formas de trabalho, para que num futuro próximo tenhamos condições de impulsionar um outro movimento massivo para impor novas conquistas. O barril de pólvora está instalado. É necessária uma boa fagulha...

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